“VTNC, seu ingrato do c**.”* Não, não é diálogo de novela das nove. É Eduardo Bolsonaro, em pleno 2025, xingando o próprio pai num grupo de WhatsApp. O episódio de “Casos de Família” transmitido em tempo real virou manchete, escancarando o reality-show grotesco em que se transformou a política bolsonarista.
Bolsonaro, o patriarca, virou o centro de um barraco nacional. Não fala como ex-presidente, fala como pai acuado que tenta segurar a dignidade enquanto o filho rasga o roteiro. Tentou remendar chamando Eduardo de “garoto fantástico.” Foi pior: soou como aquele pai que varre para debaixo do tapete a briga de família, fingindo que nada aconteceu, enquanto todo mundo já tinha visto o vexame.
Silas Malafaia, por sua vez, entra em cena como se tivesse saído direto de The Righteous Gemstones: mistura de televangelista caricato com vilão de novela mexicana. O “conselheiro do mal” que já adulou FHC, depois Lula, e agora jura lealdade eterna a Bolsonaro. Nos áudios da PF, não tem piedade: chama Eduardo de “babaca”, promete “arrebentar” o deputado em vídeo. Não aconselha — ameaça. Malafaia não é pastor, é diretor de barraco, especialista em transformar drama político em culto de auditório.
Nos bastidores, o trio tratava até o tarifaço de Donald Trump como arma política. Sim, usaram o Brasil como refém pessoal. Bolsonaro admitia que ministros do STF estavam “preocupados com as sanções.” E Malafaia, no melhor estilo conselheiro do mal, orientava: era hora de trocar tarifa por perdão, comércio exterior por autopreservação.
O país inteiro reduzido a moeda de chantagem numa mesa de truco. Não era diplomacia — era picaretagem. A economia brasileira transformada em ferramenta de pressão para aprovar uma anistia sob medida para o chefe da família. Uma espécie de leilão farsesco, com Trump no papel de figurante gringo, servindo de cortina de fumaça para um roteiro que beirava o grotesco.
No meio do espetáculo, a anistia. Vendida como gesto nobre, era apenas um “perdão coletivo de conveniência, versão deluxe”, para salvar o patriarca. Eduardo resumiu o enredo com brutalidade: “Temos que decidir entre ajudar o Brasil ou mandar os caras do protesto pra casa num semiaberto.” Tradução: o povo é figurante, o pai é o protagonista.
O espetáculo terminou com cada um repetindo sua caricatura. Malafaia sai da delegacia gritando que “não vai se calar.” Eduardo corre às redes para abraçar o mesmo pastor que o chamara de idiota: “Pastor Silas, tamo junto.” Bolsonaro se esconde atrás de advogados, sempre a vitrine de um mártir de ocasião.
É a política brasileira em modo trash TV: não é épico, é grotesco. Não é drama, é espetáculo barato. Um “Casos de Família” que insiste em se vender como história de Estado.